domingo, 23 de agosto de 2009

**Viver Profundamente

Por: Alyne Miranda
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Certa noite, contemplando a lua cheia e as estrelas, um sentimento estranho de plenitude invadiu o recôndito do meu ser.
Neste momento, que me pareceu eterno, pude escutar a voz incomparável de Ana Carolina. Não cantava. Recitava um poema. Parecia que esta voz estava dentro de mim e que suas palavras eram frutos de incansáveis reflexões, e que minha própria alma estava ali, falando comigo.
Neste poema ela dizia:

Te olho nos olhos
E você reclama que te olho muito profundamente.
Desculpa!
Tudo que vivi foi profundamente.
Eu te ensinei quem sou...
E você? Foi-me tirando os espaços.
Entre os abraços, guarda-me apenas uma fresta.
Eu, que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem,
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de eu me inventar de novo.
Desculpa! Se te olho profundamente, rente à pele,
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços;
A ponto de ver a estrada muito antes dos teus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos.
Eu não vou renunciar a mim, nem uma parte, nem um pedaço.
Do meu ser, vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva,
E permanecer te olhando
PROFUNDAMENTE.

Quem me conhece, sabe bem quem sou.
Se disser que não, é porque procura esconder seu real pensamento.
Não tenho porque ocultar qualquer detalhe do meu ser.

Esse poema, recitado por Ana Carolina, apenas me fez notar o quão as pessoas esperam que as outras mudem por algo que acreditam,
Ou por consequência de sua convivência social.
Ou ainda apenas para agradar seu “companheiro”.

Não tenho por que ser o que os outros querem.
Tenho que ser EU.
E ISSO ME BASTA.

É muito fácil observar os defeitos de quem quer que seja.
Difícil mesmo é falar dos próprios.
É impossível agradar a todos.
Por isso, é necessário agradar a si mesmo.
Somente assim é possível ver o íntimo de quem nos cerca,
E então perceber o que realmente são.

Devemos continuar olhando nos olhos...
Profundamente... E não apenas olhar.
Mas olhar serenamente
Amorosamente, talvez...
Para que talvez a compaixão nos salve
Da irremediável dor exposta na miséria humana.
Viver, profundamente, cada segundo...
Como se fosse o último ou o primeiro,
E desse modo sentir
A eternidade do agora.

Muitos preferem assumir a posição do “meio termo”.
Ficam sobre o muro, e não sabem bem o que querem.
No final, acabam não vivendo,
Nem profundo, nem raso demais.
Passam pela vida como sombras
E vegetam... Tudo acontece neles como um sonho.
Sequer percebem a pulsação frenética da Vida.
Não procuram, não questionam, não anseiam...
Apenas dormem, sem saber que dormem,
Sem jamais descobrir quem realmente são.

Por isso mesmo
Não lhes concedo o direito de exigir de mim
O que nem mesmo sabem que querem.
Eu apenas vivo! Mas sei e sinto esta magia
De existir conscientemente
Em cada segundo, em cada novo instante.
E só o agora é real.
E tu, que cobras tanto de mim?
Sabe quem és? Sabe para onde teus passos te levam?
Consegues sentir-te vivo aqui e agora?
Quais são os teus desejos mais íntimos? Podes responder?
Quando tiver essa resposta
Então quem sabe eu deixe
De te olhar assim
Profundamente.